V

Os livros empilhados eram para meu estudo do mundo literário. Escreveram muita coisa nos últimos 7500 anos. Eram os deuses astronautas? Vincas me iludem sobre a possibilidade de fugir para um lugar melhor.

IV

O sol brilhava por entre as grades. As grades eram recentes. Recentemente colocaram grades em todas as janelas. As grades refletiam o sol e deixavam a vista um gramado colorido. Flores nasciam por trás das grades. O tempo parecia existir por trás das grades. As grades comiam os dias. As grades comiam as horas. As grades comiam os televisores e os rádios e eu só perguntava sobre a eleição. Eu não queria saber da eleição. Queria saber de qualquer coisa além de grades e as grades não me respondiam. Permaneciam mudas. As grades não aprenderam a falar. As grades ainda não aprenderam a falar. As grades murmuravam, balbuciavam, mas não sabiam falar das eleições. Ou apenas não queriam falar comigo. Então eu parei de falar com as grades.

III

Pela madrugada se viam as luzes dos carros correndo. Eu bebia álcool barato sentado em uma sarjeta. Haviam pessoas comigo. Conversando comigo. Sobre nada. Nenhuma palavra somava algo e, portanto, estávamos matando o tempo. Minha eloquência parecia ser clara, pois elogiavam-me quando eu apresentava argumentos, mas, ainda assim, patinávamos sem rumo. Um carro passou e jogou água em nós. Esguicho. Alguém jogou uma pedra no carro e o dono do carro foi embora com um olho roxo depois de tentar revidar. Estávamos em maior número. Saímos dali com receio dele voltar com mais gente.

II

Dia claro de fim de outono. Eu não sabia a data, apenas parecia ser. Eu estava caminhando por um parque perto da minha casa. O parque nunca tinha muita gente. Normalmente apenas duas ou três pessoas exercitando-se, um casal de adolescentes conversando. Dessa vez, no entanto, o local estava completamente cheio, insuportavelmente cheio. Passear por entre os corpos era difícil. Todos falavam uma língua estrangeira a meus ouvidos e eu entendia apenas o meu nome sendo repetido de tempos em tempos. Quando eu olhava na direção, me encaravam em silêncio. Eu era uma celebridade infame naquele momento. Eu comecei a suar frio.

I

A empresa tinha um nome curto em caixa alta.

Não haviam logos ou placas indicando isso, porém eu sabia como parte de mim. Eu olhava para os poucos funcionários e sabia imediatamente as funções deles e os nomes, mesmo sem reconhecer a presença deles na minha vida em nenhum outro momento. J vinha me visitar de tempos em tempos, assim como A. Ninguém mais, aparentemente, tinha essa permissão. Eu não me sentia refém ou prisioneiro, mas não podia sair do local e não fazia esforços acerca disso.